18/09/2013

O artilheiro de Cr$ 5 mil


 As lembranças vão sumindo de sua mente. Menos mal que Antônio da Silva, o Santo Antônio, conta com o apoio da esposa Lucília Nunes da Silva, uma entusiasta, especialmente quando começa a recordar os anos de glória que ambos viveram nos campos de futebol de Osório. Ele, um polivalente atleta; ela, uma torcedora das mais aguerridas.

Entre as lembranças que não foram apagadas pelo tempo e por um AVC recente, está a de que era um jogador polivalente. “Jogava em todas as posições possíveis. Só não fui goleiro”, lembra Santo Antônio, que veio para Osório com 20 anos de idade para defender as cores do Sulbrasileiro. Foram cinco anos de atuação no mesmo time como titular absoluto, entre 1956 e 1960. Porém, um incidente o desgostou profundamente. Acostumado à titularidade, não aceitou quando o treinador o colocou no banco de reservas.
O Sulbrasileiro, no entanto, não aceitou liberá-lo. Exigiu uma pequena fortuna na época. Jaime Furtado, presidente do GAO – Grêmio Atlético Osoriense depositou a quantia exigida (Cr$ 5 mil) e ficou com o atleta.
Jogando no Campo do GAO, onde hoje cruzam as ruas 7 de Setembro e Firmiano Osório, Santo Antônio empilhou gols. Sofreu com a ira dos torcedores da equipe rival. “Eu fazia muitos gols. Não passava um jogo que não fizesse um”, afirma com convicção. Com seus gols ajudou o time a conquistar o tricampeonato (60, 61 e 62), garantindo, assim, a participação no Estadual de Amadores.
1960, Campo do GAO: De pé: Jaime Furtado (Pres. ou Dir.),  Manfredini, 
Bolinha,  Ângelo, Pedrinho, Linhares,  Roni, Gil  Davóglio e Orlando  Silva  (Dir). 
Agachados: Fabinho, Santo Antônio,  Herculano, Amadeu,  Araguari,  Dionísio   
e  o massagista (?) 
Santo Antônio recorda que o time era muito bom. Destaca o jogador Araguari, que atuou no Inter: “Ele vinha de avião pra jogar no nosso time”, destaca.
O ex-atleta, com orgulho, lembra que a habilidade e o talento dos tempos de juventude garantiram um emprego público na Prefeitura de Osório. Com isso, permaneceu na terra que tão bem o acolheu. “Fui dirigente, treinador, colaborador de todos os clubes de Osório”, ressalta, lembrando, ainda, que se envolveu na criação do Clube Atlético Milionários, outra referência no esporte osoriense.

A rivalidade

Não havia jogo amistoso entre GAO e Sulbrasileiro, nos idos dos anos 50 e 60 do século passado. A rivalidade era enorme. A pacata cidade, onde todos se conheciam pelo nome, sobrenome e apelido, virava um verdadeiro caldeirão. Os nervos iam à flor da pele. A semana custava a passar. Os mais fanáticos contavam as horas impacientemente. No comércio, na escola, nas rodas de chimarrão dos homens e de mate doce das mulheres o clássico era assunto obrigatório. Não importava onde o jogo fosse realizado, se nos Taquarais (campo do GESB) ou se nas Capororocas (do GAO). Clássico era sinal de campo lotado. 
A rivalidade era tão arraigada que os torcedores mais fervorosos optavam mesmo por certo distanciamento dos torcedores do outro time. “Até as melhores amigas deixavam de conversar naqueles dias de nervosismo”, conta Lucília Nunes da Silva, esposa do habilidoso Santo Antônio, que jogou pelos dois times.
O efeito do resultado do clássico era sentido por dias. Quem perdia se fechava e os vencedores tocavam flauta. “Nos jogos até as mulheres brigavam”, lembra Lucília, destacando que o constrangimento demorava dias ou semanas para ser superado. “Depois de um tempo tudo voltava ao normal”. 
Tudo voltava à normalidade, até o próximo clássico.
Neimar Pacheco, filho do ex-presidente Vilmar Pacheco, já falecido, lembra que insistiu para que o GAO voltasse ao futebol, no início dos anos 80. “Eu era muito novo e não entendi quando ele me disse que não devíamos retomar aquela história”, destaca lembrando que seu pai era todo coração. “Ele enxergava os adversários como se inimigos fossem”. Terminado o jogo, porém, ganhando ou perdendo, ele abraçava os meninos do outro time e os convidava para tomar uma cerveja em sua casa. “Durante o jogo ele ficava irreconhecível e isso contaminava a todos na família”, reconhece Neimar.





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